sexta-feira, 29 de outubro de 2010

“Chamam-me puras porque não tenho cartas na manga”

É normal existirem preferências e atletas que admiramos pela forma como encaram o desporto e a vida.
No circuito do Triatlo existe um atleta a quem todos reconhecem um potencial enorme e que consegue criar uma empatia natural com quem se cruza, não tenho dúvida nenhuma que estamos perante um Campeão com carisma que irá sem dúvida incentivar ainda mais miudos no futuro a  praticar Triatlo.
Eu acredito no João Pereira, e deixo aqui uma entrevista recente no jornal Mirante, que mostra a sua forma de estar no desporto e na vida, sem dúvida um grande exemplo para todos.

“Chamam-me puras porque não tenho cartas na manga”



O atleta de triatlo do Sporting Alhandra Club, João Pereira, 22 anos, não é um desportista comum. Não treina desde a tenra idade e aos 18 anos ainda “não sabia muito bem o que era o triatlo”. “Sempre pratiquei mais desportos radicais, mas nunca me aproximei sequer da alta competição”, começa por dizer. Mesmo sem nunca ter praticado desporto regularmente, João Pereira já era o melhor nas pequenas disputas em que entrava. Lembra-se dos corta-matos, organizados pela escola, onde vencia sempre, apesar de não gostar nada da competição. “Mesmo agora, a parte que eu mais gosto é a dos treinos da pré-época. Não gosto assim tanto quando chegam as provas”. Nem por isso se deixa ficar em último. “Lembro-me que para não ir a correr em último preferia desistir”.

Quando ainda estava no 12º ano, o professor de Educação Física, ao reparar na velocidade de João Pereira, resolveu levá-lo para o Alhandra Sporting Club. Depois de realizar uns testes, acabou por ficar no clube, motivado mais pela oportunidade de obter o estatuto de atleta de alta competição. Não tardou muito a participar em alguns campeonatos europeus, acabando por conquistar o estatuto. “Entrei no triatlo mais pela onda do momento, do que propriamente pela paixão. Foi uma oportunidade que me apareceu e resolvi aproveitá-la”, confessa o triatleta que é tratado pelo apelido “puras” no Alhandra Sporting Club. “Os meus colegas chamam-me puras porque dizem que sou uma pessoa que não tem cartas na manga”.
Entrou para o curso de Ciências do Desporto, na Faculdade de Motricidade Humana de Lisboa, e prosseguiu os treinos no Centro Desportivo Nacional do Jamor. Depois de 3 anos em Lisboa, resolveu mudar-se para Montemor-o-Velho, passando a treinar com o seleccionador nacional Lino Barruncho, no Centro de Alto Rendimento e a morar na Casa do Triatlo, com mais 11 atletas. “Gosto mais de viver em meios mais calmos, no campo, e por isso não me custou nada ir para Montemor-o-Velho”, revela o jovem. Está inscrito no 1º ano do curso de Desporto e Lazer do Instituto Politécnico de Coimbra, mas de momento resolveu colocar o triatlo em primeiro plano. “Nunca fui muito bom aluno e os estudos nunca foram uma prioridade. Hoje em dia, se me dedico aos estudos, deito-me mais tarde e se me deito mais tarde vou cansado para os treinos. É uma pescadinha de rabo na boca”, diz o desportista que neste momento está a apostar no apuramento para concorrer na categoria de Elites, nos Jogos Olímpicos de 2012.
Um dia típico para João Pereira começa com o despertador a tocar às 5h40. Nada 5 km até as 8h00, quando pára para tomar o pequeno-almoço. “Às 8h00, quando todos se levantam, eu já estou tão cansado que só penso em ir dormir”, conta a rir-se. Descansa até às 10h00 e depois é altura de pegar na bicicleta por duas horas. Almoça e tem direito novamente ao repouso antes de partir para a corrida às 16h00, terminando o treino com sessões de ginásio.
O título que mais o marcou foi o terceiro lugar que conquistou no Campeonato do Mundo de Sub-23, na Austrália, em 2009. “Para vencer esta prova, sofri muito. Cheguei à meta tão cansado que nem sequer festejei. Só no dia seguinte, quando acordei, é que tomei consciência que já tinha sido o terceiro melhor do mundo”. “Perguntaram-me, depois deste título, se voltaria a entrar no desporto de alta competição. Na altura respondia que não. Se soubesse o que se sofre a nível psicológico nas provas, não teria vindo”. Hoje, o triatlo já começa a fazer algum sentido: “No fundo, agora já gosto desta vida e não tenho dúvidas sobre aquilo que faço”.

No inicio deste ano lesionou-se e atrasou a preparação toda. “Estive três meses parado e depois de conquistar o 3º lugar no mundo, na categoria de Juniores, só conseguia pensar que tinha estragado tudo”. Nesta altura, teve o apoio incondicional dos amigos que estão espalhados por Alhandra, Vila Franca de Xira, Montemor-o-Velho e Caldas da Rainha, onde moram agora os pais. “Tento passar o maior tempo possível com os meus amigos, embora falhe quase todos os jantares de aniversário”, conta a rir-se. À noite gosta muito de ir para Alhandra, de estar nos cafés à beira-rio, na cavaqueira com os amigos.
O tempo que passa em casa é muito pouco. Está mais tempo a viajar. “Embora considere a minha casa em Vila Franca de Xira, onde vivi até ir para Lisboa, nunca sei muito bem qual é a morada que devo dar. Tanto posso estar com os meus pais que se mudaram recentemente para as Caldas da Rainha, como em Montemor-o-Velho ou até em Lisboa, no Jamor”. Não tem muito tempo para namorar também. A namorada, tenista, passa tal como João Pereira, muito tempo a viajar. “Sempre namorei muito à distância. Conheci a minha namorada no Jamor. Quando descobriu que eu ia para Montemor-o-Velho não gostou muito da ideia. É uma relação diferente, mas está a correr bem”, assegura. Tem o apoio incondicional dos pais que raramente conseguem ter o filho para jantar em casa. “Dentro do ramo, conseguimos ir ganhando muitos conhecimentos que podem ser muito importantes para o futuro”, garante o desportista que deseja abrir mais tarde uma escola de vela ao lado do mar ou um campo de aventuras.
Não se considera obcecado pelo triatlo. “Estar sempre a falar de um desporto é extremamente monótono. Neste momento já sei o nome dos atletas principais, porque quando comecei a competir, corria ao lado dos melhores do mundo e nem sequer sabia quem eram”, diz a rir-se.
Embora não goste de estabelecer objectivos a longo prazo, está concentrado em garantir agora o apuramento para os Jogos Olímpicos de 2012. Se conseguir, irá tatuar as cinco argolas que representam os Jogos Olímpicos.
Na onda do triatlo
Nascido no dia 28 de Dezembro de 1987, nas Caldas da Rainha, João Pereira realizou a primeira prova de triatlo em Abril de 2006, no “V Triatlo da Cidade de Quarteira”, tendo alcançado a 23ª posição da geral e 6º lugar, no escalão de Juniores. A primeira vitória de João Pereira ocorreu a 20 de Maio de 2007, no “II Triatlo da Cidade de Sines”. O seu ponto forte é o ciclismo, sendo nessa modalidade que habitualmente consegue as melhores prestações desportivas.
Tem como referência os triatletas Bruno Pais e Xavier Gomez Noya. Gosta de todas as componentes do triatlo, principalmente na distância olímpica. Pretende continuar a melhorar os resultados anteriores, ser um atleta de referência e estar presente nos Jogos Olímpicos de 2012.
Dos resultados alcançados destacam-se o título de Campeão Nacional de Sub-23 (2007); o 2º Lugar em Estafetas no Campeonato da Europa de Elites, em Copenhagen (2007); o 3º Lugar em Estafetas no Campeonato da Europa de Elites, em Lisboa (2008); o 16º Lugar no Campeonato do Mundo de Sub-23, em Vancouver (2008); o 8º Lugar no Campeonato da Europa de Sub-23, em Pulpi (2008); o 1º Lugar em Estafetas no Campeonato da Europa de Sub-23, em Pulpi (2008); o título de Campeão Nacional de Sub-23 (2008); o 9º Lugar no Campeonato da Europa de Sub-23, em Tarzo Ravine (2009) e 3º Lugar no Campeonato do Mundo de Sub-23, em Gold Coast (2009).
No que refere a títulos, em 2006 foi Campeão Nacional de Age Groups 18-19 e, em 2007 e 2008, foi igualmente Campeão Nacional Sub-23. No dia 5 de Outubro de 2010, recebeu o Galardão de Mérito Desportivo da Junta de Freguesia de Alhandra.

2 comentários:

Anónimo disse...

Sem duvida um grande atleta, para mim sempre foi uma referência e não tenho duvidas que vai dar muitas alegrias.
Paulo Pitarma

João Correia disse...

Obrigado, Sica, por teres trazido esta entrevista a este espaço. Porque de outro modo eu não teria tido a possibilidade de a ler e de saber algumas coisas interessantes sobre a vida do João, a quem endereço também uma grande abraço e por quem igualmente nutro uma simpatia especial, dada a sua natureza humana, simplicidade, tenacidade e espírito positivo.
Até breve, companheiro-