sexta-feira, 19 de março de 2010

CIVISMO


Ao ver este texto, achei que o devia partilhar convosco, o autor aborda uma situação real que provavelmente já aconteceu com todos nós e a grande conclusão que tiro é que se queremos de facto viver num Mundo melhor temos que começar por respeitar e confiar no próximo, algo que cada vez, vai escasseando mais nos nossos dias

"Estávamos embalados. Se "embalados" era rápido ou não, depende do ponto de vista, mas certamente já havíamos atingido aquela velocidade que torna qualquer ação diferente de continuar seguindo em linha reta um grande problema. Íamos lado a lado, eu e meu companheiro de pedal naquela manhã, tomando praticamente todo o espaço disponível no acostamento, e vez por outra levantando a cabeça para ver se a frente continuava desimpedida.
Numa dessas olhadas, vi que talvez uns 150 metros adiante, pela esquerda, um ônibus vinha entrando no acostamento em direção ao seu ponto de parada. Iniciou-se então aquele conflito entre o instinto de sobrevivência e o cérebro reptiliano:

 
I.S. - diminui, espera o ônibus partir, e vai atrás dele....

C.R. - passa lotado pela esquerda que dá tempo!

I.S. - não vai dar tempo....

C.R. - pode ir que dá tempo!Atormentado pelos dois, resolvi olhar por cima do ombro esquerdo para ter certeza que haveria tempo suficiente de desviar o ônibus em segurança, passando pela pista. Nisso, do ônibus, que nessas alturas já estava parado no acostamento, surge uma mãozinha pela janela do motorista. Pendurados nessa mãozinha, dedinhos movimentavam-se para frente e para trás, junto com a própria mão. O sinal era universal: "Venha, pode passar".

Havia, realmente, um pequeno espaço entre o ônibus e a faixa direita da pista, por onde uma bicicleta passaria - meio apertado, mas passaria. Ainda mais com a certeza de que o motorista do ônibus estava de acordo com a manobra.
Ao passarmos, deixei no ar um outro sinal para o motorista - dedos fechados, polegar esticado para fora. Não sei como ele interpretou, mas minha intenção foi dizer "obrigado por sua cortesia; tenha um dia abençoado;".

Quanto poder nas mãos! Sem uma palavra, sem força alguma, nossos gestos colocaram ordem em um pequeno momento de caos. Curioso pensar que se um dia nos encontrarmos, motorista desconhecido e ciclista qualquer, jamais nos reconheceremos. Mas nasceu ali, para morrer segundos depois, uma relação de confiança, de respeito e de gratidão que as vezes em uma vida não conseguimos desenvolver, mesmo com pessoas de intenso convívio. Pode parecer bobagem, mas para nós dois ciclistas, espremidos entre o ônibus e o tráfego, confiando nossas vidas ao gesto de um desconhecido, não foi. Quando você passa entre um ônibus parado e carros em alta velocidade numa rodovia, nada é bobagem.

E porque dois homens que não se conhecem e nunca irão se reconhecer mesmo que colocados frente um ao outro trocaram gestos de Respeito (do motorista pelo ciclista) e Gratidão (do ciclista para com o motorista), o mundo ficou, naquele instante, um pouco melhor - senão como um todo, certamente com mais Respeito e Gratidão no ar.
Sinceramente, vou tentar lembrar disso da próxima vez que impulsionado pela raiva, aquele dedo do meio insistir em sair da companhia dos outros, dobradinhos, e ficar rijo, somente ele, desafiando algum motorista menos generoso. Não é fácil, mas em nome de fazer a minha parte para que nessa passagem pela vida fiquem mais amigos que inimigos, mais gratidão que ressentimento, vou tentar."
 
Fica o link para quem quiser aceder ao blog http://maxkonabikes.blogspot.com/
 

1 comentário:

João Correia disse...

Boa prova, para amanhã.

Abraço.